Este fim de semana estive no Unsicht-bar, em Colónia.
Este restaurante tem uma temática muito particular: proporcionar a experiência que os cegos têm quando chega a hora de comer. Para atingir esse objectivo, a sala de jantar do restaurante encontra-se completamente escura, e é um sítio onde, de acordo com o nosso empregado, “qualquer tipo de luz é tabu”.
Isto significa desligar ou guardar tudo o que possa emitir luzes, como o telemóvel, relógios, etc. A passagem da recepção para a sala de jantar processa-se através de um sistema de duas portas em que apenas uma pode estar aberta a qualquer momento, e que garante que não há luz nenhuma acesa no momento em que se abre a porta que dá para o interior do restaurante.
Para dar uma ideia, eis uma foto que tirei durante o jantar:
Os empregados de mesa são na sua grande maioria invisuais. Eles guiam-nos através da escuridão até ao nosso lugar, dão-nos instruções sobre onde podemos encontrar os nossos talheres e como receber as bebidas e ensinam-nos a encontrar a comida no nosso prato. Comida essa que pode ser escolhida à entrada, mas apenas de uma forma muito geral — existem seis menus, de carne de aves, peixe, vegetariano, etc, mas não sabemos exactamente o que vem servido em cada um deles. Tentar descobrir o que estamos a comer constitui a segunda parte da experiência.
O que é que isto tudo significa para o restaurante? Muitos copos e pratos partidos, para começar. Nas duas ou três horas que estivemos lá dentro houve pelo menos quatro eventos em que a loiça teve um encontro violento com o chão. Num deles, foi o meu próprio copo de vinho, que felizmente já estava vazio (convém dizer que não foi culpa minha, mas do empregado que estava a arrumar a mesa ao meu lado). Mais a mais, aposto que poupam com a decoração, e a limpeza do chão é provavelmente opcional (mas espero que não).
E o que significa para nós? Tentar cortar um pedaço de peito de frango sem ver nada é um desafio único: o resultado fica frequentemente pequeno demais para render o trabalho de o ter cortado e procurado no prato, e quando fica grande demais, temos de decidir se volta para o prato para uma nova tentativa e se antes de voltar ainda leva uma trinca, ou se talvez devíamos ver se ainda cabe tudo na boca — depois de levar o garfo vazio à boca pela décima vez, um tipo começa a racionalizar que qualquer comida que venha agarrada ao garfo não é para desperdiçar.
No final de contas foi uma experiência única e espectacular. Estar num sítio público onde ninguém nos pode ver dá aso a muitas coisas. Alguns dos nossos vizinhos começaram a falar alto demais e a fazer comentários idiotas. Eu optei por fazer carantonhas horríveis e coisas que podem ser classificadas como “figuras de parvo”, desde que fossem sempre feitas de uma forma discreta e silenciosa. Ainda por cima, o meu método de comer foi tudo menos “limpo”, assim que descobri que era mais fácil encontrar a comida no prato com os dedos do que com o garfo.
No final foi-me sugerido que o restaurante talvez pudesse ter uma câmara daquelas que vêem no escuro, ao que eu digo: Quem me dera ter esse filme!
Só me resta saber se sabes o que comeste.
Nesse barco … digo, restaurante não me apanham.
Se ás claras já comemos gato por lebre, imagino ás escuras. E a limpeza da loiça e dos talheres??!!!
Perdi-a logo a fome ao entrar num sítio desses.
Prefiro outras experiências mais radicais mas à vista e com luz, mesmo que lusco-fusco.
Gabo-te a coragem e imagino o que se riem ao ver as filmagens (é obvio que há algo a filmar no escuro)
Ahah! Acho que não é tão mau como parece à partida.
Apenas a sala de jantar é às escuras, e apenas os empregados de mesa são cegos (alguns, não todos). A cozinha e o resto das instalações estão bem iluminadas, e de qualquer maneira pelo preço que cobram por cada menu, bem que podiam comprar pratos novos para cada cliente.
Recomendo a experiência a toda a gente que tenha essa oportunidade. O ambiente e a boa disposição de toda a gente envolvida fará perder as desconfianças mesmo ao tipo mais paranóico de todos.
Num restaurante assim um gajo podia, sei lá, ir de pijama. Azul.
Ou por-se nu durante a refeição.
Num episódio do CSI um tipo é morto num restaurante destes.
RJ: Parabéns, encontraste o ovo da páscoa